quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Passione 2


No começo, muita gente estranhou o ritmo acelerado de Passione, mais para série americana do que para novela brasileira. Agora, tem telespectador achando que o mocinho é o bandido e torcendo para que a bandida se redima.

No futuro, Passione poderá ser reconhecida como uma novela que ajudou a mudar a concepção de heróis, tornando-os mais humanos e modernos. Um passo adiante para o gênero mais avançado da televisão brasileira, que já nos anos 1970, em plena ditadura, cumpria função social educadora ao defender a igualdade entre homens e mulheres. E que, duas décadas depois, mostrou que gays são pessoas "normais" e pregou a justiça social e a reforma agrária.

"Passione não é uma novela convencional, muito menos ainda no que diz respeito aos personagens", afirma Silvio de Abreu, responsável pelo texto da produção das 21h da Globo.

Um dos aspectos que vêm incomodando telespectadores é o comportamento da mocinha Diana, interpretada por Carolina Dieckmann. Ela traiu o marido, Gerson (Marcello Antony), algo impensável para o esquema clássico da heroína de folhetim.

Silvio de Abreu explica:

"Diana não tem nada de uma heroína convencional. Geralmente, a heroína gosta do herói e passa por muitos percalços até conseguir a felicidade, no último capítulo da novela. Diana começou logo de cara com os maiores galãs da novela caídos por ela. Não brigou por nenhum dos dois, escolheu errado e nunca ficou chorando nos cantos. Foi atrás de reparar o seu erro e reformular a sua vida. Para mim, isso é uma heroína moderna, que toma a vida em suas mãos, erra, cai, se levanta e vai em frente. Não é aquela mocinha passiva que fica esperando o destino resolver por ela. É claro que para o público é estranho, nenhuma heroína foi assim antes."

Silvio de Abreu (com o diretor Jorge Fernando): há 15 anos, o autor inovou ao retratar um casal gay como qualquer outro (Foto: Bob Paulino)

Abreu levou muita gente a acreditar que Melina (Mayana Moura), a antagonista de Diana, seria a verdadeira mocinha. Ela foi apresentada como boa filha, profissional talentosa, apaixonada por Mauro (Rodrigo Lombardi) desde a infância.

No capítulo da última terça, Melina apareceu como uma menina mimada, possessiva, neurótica. Em breve, vai se casar com o vilão Fred (Reynaldo Gianecchini), somente para se vingar dos Gouveia - uma família que, apesar de rica, tem todos os defeitos do mundo.

Já o comportamento de Mauro pode induzir o público a suspeitar que ele esconde algo terrível - desde uma paternidade não assumida até a arquitetura de uma série de crimes. Silvio de Abreu sustenta que ele é, sim, o herói de Passione:

"Ele é o mocinho do triângulo amoroso mais convencional da novela. Mas como pode ser mocinho se não rompeu com o Gerson quando ele lhe roubou a mulher? Como pode ser mocinho se aceitou ser trocado pelo outro e entendeu que não podia fazer nada diante da escolha da mulher amada? Isso também não é um comportamento usual de herói, mas sim de um homem adulto e equilibrado."

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